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Ricardo Faria: do empreendedorismo na infância ao comando de um império no agronegócio

Ricardo Castellar de Faria, ou o Rei do Ovo, hoje conhecido como um dos grandes nomes do setor avícola brasileiro, construiu sua trajetória no agronegócio com uma visão estratégica que começou a ser moldada ainda na infância. Em 2024, Ricardo entrou para a lista dos maiores bilionários do Brasil, publicada pela Forbes, ocupando a 21ª posição com um patrimônio de R$ 17,45 bilhões. À frente da Granja Faria, ele é responsável por um dos maiores conglomerados de produção de ovos da América Latina, com 20 milhões de aves alojadas e uma produção anual de 5,2 bilhões de ovos. Em reportagem exclusiva ao jornal O Presente Rural, Ricardo Faria conta um pouco de sua história.


Aliás, a história de Ricardo não é fruto de um acaso ou de um golpe de sorte, mas sim de uma jornada empreendedora que teve início em experiências simples da infância, quando ele já demonstrava habilidades comerciais e um espírito inquieto, sempre em busca de oportunidades.


Ricardo Faria nasceu em Niterói, no Rio de Janeiro, e, ainda criança, mudou-se com sua família para Santa Catarina. Desde a infância, ele revelou um instinto natural para os negócios, aproveitando as oportunidades ao seu redor, algo que se tornaria uma marca ao longo de sua vida. “Descobri a paixão pelo empreendedorismo na infância. Nascido em Niterói, me mudei para Santa Catarina aos 3 anos e logo percebi que trabalharia por conta própria. Tive várias experiências que mostraram meu tino comercial, como vender papelão para reciclagem e colher frutas no sítio do meu pai para vender em frente à minha casa. Aos oito anos, durante as férias de verão, consegui vender picolés nos jogos do Criciúma”, conta.


Essas experiências moldaram sua mentalidade empreendedora. Enquanto muitas crianças de sua idade ainda se ocupavam apenas de brincadeiras, Ricardo estava aprendendo sobre lucro, negociação e atendimento ao cliente — lições que se mostrariam valiosas em seus empreendimentos futuros. Esses primeiros passos, embora simples, foram cruciais para sua formação como empresário.


O começo formal

Após um período de intercâmbio nos Estados Unidos, Ricardo voltou ao Brasil e optou por cursar Agronomia, uma escolha que refletia tanto seu interesse pelas questões rurais quanto a tradição de sua família, que mantinha um pequeno negócio de produção de uniformes para frigoríficos. Foi nesse cenário que Ricardo deu seus primeiros passos formais no mundo dos negócios.

“Depois de fazer intercâmbio nos EUA e voltar ao Brasil, optei por cursar Agronomia. Logo, comecei a gerenciar um pequeno negócio do meu pai, que produzia uniformes para frigoríficos. Aos 20 anos, percebi a oportunidade de alugar os uniformes, assumi os riscos, ampliei o projeto e fundei a Braslave, que mais tarde se transformou na Lavebras”.


Foi na Lavebras, empresa de lavanderia industrial que ele fundou, que Ricardo começou a desenvolver o olhar estratégico que mais tarde aplicaria na Granja Faria. A ideia inovadora de alugar uniformes, em vez de vendê-los, permitiu a Ricardo expandir o negócio rapidamente. Em 2017, ele vendeu a Lavebras para uma multinacional francesa por R$ 1,3 bilhão, consolidando sua primeira grande conquista empresarial.


Com a venda da Lavebras, Ricardo voltou seu foco para um novo setor: a produção de ovos. Fundada em 2006, a Granja Faria começou em Nova Mutum, Mato Grosso, e rapidamente cresceu graças à visão estratégica de seu fundador. O conhecimento sobre logística e operações, desenvolvido na Lavebras, foi essencial para o sucesso do novo negócio


A construção de um império no agronegócio

A Granja Faria não demorou para se destacar no mercado brasileiro de produção de ovos. Em 2008, apenas dois anos após sua fundação, a empresa começou a produzir ovos férteis em parceria com a BRF, um dos maiores conglomerados de alimentos do Brasil. A produção inicial, em Videira (SC) e Fazenda Vila Nova (RS), marcou o início da expansão da empresa, que logo se tornaria uma das maiores do setor avícola.


Em 2013, Ricardo realizou uma das aquisições mais estratégicas de sua carreira ao comprar a Avícola Catarinense, uma empresa com mais de duas décadas de atuação no mercado avícola. Essa aquisição transformou a Granja Faria, que passou de um parceiro da indústria a um player independente no mercado.


“Em 2013, a compra da Avícola Catarinense marcou um ponto de virada na trajetória da granja. Esse foi o primeiro grande acontecimento que transformou a companhia. Deixamos de ser apenas parceiros da indústria e nos tornamos um player com independência, reforçando a importância estratégica do movimento de aquisições para o crescimento da empresa”, lembra.


Com essa aquisição, a Granja Faria não apenas expandiu sua capacidade de produção, mas também começou a atuar com mais força no mercado internacional. A crise global da gripe aviária, em 2014, abriu novas oportunidades para a empresa, que se posicionou rapidamente no segmento de ovos férteis, tanto no Brasil quanto no exterior.


A diversificação e o crescimento sustentável

Nos anos seguintes, a Granja Faria continuou a crescer e diversificar suas operações. Além da produção de ovos férteis, a empresa começou a investir na produção de ovos comerciais, ampliando sua presença no mercado de consumo. Em 2018, a Granja Faria deu um novo passo importante ao entrar no segmento de ovos caipiras e orgânicos, com a criação da marca “Ares do Campo”, uma das líderes nesse nicho.


Essa diversificação não apenas aumentou as receitas da empresa, como também ajudou a consolidar a Granja Faria como uma marca que atende diferentes perfis de consumidores, algo que Ricardo Faria sempre teve como objetivo. “Minha visão de mercado é clara: quero atender todos os perfis de consumidores, sem exceções. Acredito que o mercado de ovos é tão diverso quanto os próprios compradores e, por isso, nossa missão é oferecer um portfólio democrático, que abrange desde os ovos convencionais até os mais especializados, como orgânicos, caipiras e ovos enriquecidos com selênio e ômega 3”, menciona.


A diversificação dos produtos e a expansão das unidades de produção foram acompanhadas por um forte compromisso com a sustentabilidade. Ricardo destaca que sempre foi um defensor de práticas sustentáveis, e a Granja Faria implementou diversas iniciativas para reduzir seu impacto ambiental, como o uso de energia solar e a criação de sistemas de tratamento de efluentes. “Na Granja Faria, buscamos adotar práticas mais sustentáveis, como: investimento em tecnologias que otimizam o uso de recursos, visando à redução do consumo de água e energia; implementação de sistemas de tratamento de efluentes para minimizar o impacto ambiental; e exploração de fontes de energia renovável, como a solar”.


A expansão internacional e o futuro da Granja Faria

O sucesso da Granja Faria no mercado nacional permitiu que a empresa começasse a explorar mercados internacionais, especialmente na produção e exportação de ovos férteis. Com mais de 20 milhões de aves em seu plantel, a Granja Faria produz, em média, 5,2 bilhões de ovos por ano, atendendo tanto o mercado interno quanto o externo.


“A abertura de portas para o mercado internacional começou a se desenhar diante do surto global de gripe aviária em 2014, que trouxe desafios, mas também abriu oportunidades no mercado de ovos férteis. Naquele cenário, a Granja Faria estava pronta para um crescimento rápido graças à estrutura da Avicola Catarinense, e encontrou um mercado global receptivo”, aponta.


Do total de 5,2 bilhões de ovos, em 2023 a Granja Faria alcançou a marca de 239 milhões de ovos férteis produzidos, com uma média diária de 655 mil ovos. No mesmo ano, a empresa produziu 151 milhões de pintinhos de um dia, atendendo principalmente os mercados dos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo.


E os lucros da empresa não poderiam ser diferentes, se não vultuosos. “Em 2023, registramos um lucro líquido de R$ 204,6 milhões, com um Ebitda de R$ 645,9 milhões, o que representou aumentos de 19,9% e 83%, respectivamente, em comparação com 2022”, menciona.


Essa capacidade de produção coloca a Granja Faria entre as maiores empresas do setor avícola da América Latina, e a empresa não mostra sinais de desaceleração. Em 2024, a Granja Faria expandiu sua presença no Brasil com a aquisição da Granja Vitagema, localizada em Parnamirim (RN), marcando sua primeira operação na região Nordeste do país.


“Somo uma empresa listada na B3, embora não tenhamos ações negociadas publicamente, e, por isso, não podemos divulgar previsões ou expectativas futuras. O que posso adiantar é que estamos trabalhando na internacionalização da companhia”, conta.


O futuro da Granja Faria parece promissor, com planos de expansão tanto no mercado nacional quanto internacional. A empresa já atua em 10 estados brasileiros, com 24 granjas e aproximadamente 4 mil funcionários. O foco de Ricardo agora é consolidar a liderança da empresa no Brasil e abrir novas frentes de negócios no exterior. “A visão de longo prazo da Granja Faria envolve o fortalecimento de sua posição de liderança no mercado brasileiro e a expansão para novos mercados internacionais, sempre com foco na sustentabilidade e na qualidade dos produtos”, aponta.


Visão

O menino que vendia papéis para reciclagem e picolés nos jogos de Criciúma, sempre inquieto e atento às oportunidades, transformou-se no homem que hoje, aos 49 anos, lidera um dos maiores impérios do agronegócio. À frente da Granja Faria, Ricardo Faria comanda um conglomerado com 24 granjas, 20 milhões de aves alojadas e uma produção anual de 5,2 bilhões de ovos. São números que impressionam, mas que, acima de tudo, simbolizam a visão estratégica e os compromissos que ele sempre manteve ao longo de sua carreira. “A lição mais importante que aprendi foi a importância da qualidade, da inovação e da adaptação às mudanças do mercado”.


Com uma trajetória marcada por decisões estratégicas e pela capacidade de enxergar oportunidades onde poucos viam, Ricardo Faria se consolidou como um dos maiores empresários do agronegócio brasileiro. Sua liderança na Granja Faria não é apenas sucesso individual, mas também reflete a força do agronegócio brasileiro em um cenário global cada vez mais competitivo.


Ricardo Castellar de Faria


Fonte: O Presente Rural

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