O bem-estar animal é um tema que tem ganhado força nos últimos anos, especialmente porque é crescente a preocupação por produção de alimentos, aliada à pressão para se alcançar altos níveis de resultados, com menores custos. Em agosto, entrou em vigor a Portaria nº 365, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que instituiu o “Regulamento Técnico de Manejo Pré-abate e Abate Humanitário e os métodos de insensibilização autorizados no abate”.
A portaria impõe obrigações aos estabelecimentos que realizam abates, para consumo humano ou outras finalidades comerciais, e vale para todos os estabelecimentos de abate do Brasil, independentemente se o frigorífico tem inspeção federal, estadual ou municipal. Os estabelecimentos registrados, junto a órgão federal, têm um ano para se adequar. Já para os registrados, junto a órgãos estaduais ou municipais, o prazo para entrar em conformidade é de dois anos.
O objetivo da portaria é fazer com que todo o processo de abate ocorra em ritmo, o mais natural possível para os animais; sem sobressaltos; barreiras físicas; lesões ou agressões; evitando dor; agonia ou sofrimento desnecessários, independentemente da espécie; sexo; idade ou porte. Vale destacar que, com a entrada em vigor do texto, todo estabelecimento de abate deve designar um responsável pelo bem-estar animal, em sua unidade industrial. A inclusão do transporte no pré-abate, é outra determinação, já que, antes, a atenção ao bem-estar animal estava regulamentada, apenas, a partir do desembarque dos animais no frigorífico.
Outro ponto da portaria é a capacitação dos trabalhadores. Para assegurar que todas as ações corram bem e de acordo com os requisitos, a portaria determina que “o estabelecimento de abate deve assegurar que todos operadores, envolvidos no manejo pré-abate e abate, inclusive os motoristas dos veículos transportadores de animais, sejam capacitados nos aspectos de bem-estar dos animais de abate”.
Avicultura antecipa
Na avicultura, a maioria das empresas já cumpre o que está sendo determinado pela Portaria nº 365 e outras já estão no processo de adaptação. Nos últimos anos, foram muitos os investimentos do setor para integrar tecnologia; genética; padrões científicos de saúde; conforto; segurança; nutrição e manejo para se garantir, além da sanidade e bem-estar das aves, maior rentabilidade.
A cada ano sobem os números da produção de carne de frango e ovos e aumenta a pressão para atendimento à forte demanda por alimentos no país. Segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a produção brasileira de carne de frango cresceu 4,5%, em 2020, no comparativo com o ano anterior, fechando com volume total de 13,845 milhões de toneladas. Com relação à produção de ovos, nos últimos 5 anos, o país passou de 39 bilhões de ovos para 53 bilhões, ressaltando, ainda, que o consumo de ovos aumentou de 191 para 251 ovos per capta no país, de acordo com a ABPA.
Granja Diamante
Aliado ao aumento da produção está o aumento dos custos, resultado da subida dos preços da nutrição, da energia elétrica, das embalagens... Mas é preciso ressaltar que todo investimento no bem-estar das aves compensa, pois elas se tornam muito mais produtivas quando são bem tratadas.
É o que reconhece o gerente de Produção da Granja Diamante, Josimar Queiroz dos Santos Paiva. Segundo ele, a granja investiu em galpões com sistema automatizado, para garantir melhor qualidade na produção. “Temos o controle de tudo. Sabemos quanto a ave consome, quanto ela bebe de água; qual a ambiência que está sendo fornecida para as aves; qual o nível de amônia que está no galpão, naquele momento, o nível de CO²; qual a temperatura; a umidade; a intensidade de luz fornecida; quantos exaustores estão ligados, qual o nível de ventilação... E tudo isso on-line, todo o tempo. Temos o controle total dos nossos aviários, na palma da mão, permitindo, assim, o monitoramento, alterações e correção de desvios em tempo real”, detalhou.
Josimar Paiva garante que essas medidas proporcionam para as aves uma “ambiência espetacular, manejo bem controlado, qualidade de ovo excelente, nível de sanidade controlado para os planteis, ou seja, o bem-estar ideal”. De acordo com ele, dessa forma, as aves respondem melhor ao potencial genético que elas têm, retornando com melhores resultados, principalmente em produtividade e sanidade.
“Devemos sempre lembrar que é possível ter criação de aves em gaiolas, seguindo todas as normas de bem-estar animal, densidade correta, conforto, condições ideais de ambiência e nutrição. Como eu sempre aprendi na avicultura, as aves respondem exatamente ao que fornecemos para elas: se você quer bons resultados, forneça boa estrutura, bom manejo e bem-estar”, ressaltou o gerente de Produção.
No entanto, ele acredita que as indústrias avícolas precisam evoluir ainda mais. “Temos de aprender que não é produzir a qualquer custo. O setor tem de sair do comodismo e perder alguns paradigmas antigos, que ainda estão enraizados na memória de muitos”. Josimar Paiva ressalta que a tecnologia é a grande aliada do setor produtivo, e que ter o profissional certo, para lidar com ela, garantirá maior bem-estar para as aves. “Com toda certeza, colheremos estes frutos de investimentos no bem-estar animal em nossa indústria, pois os equipamentos também facilitam o trabalho do dia-a-dia, otimizam a mão de obra e diminuem os nossos custos de produção”, enfatizou.
Cobb-Vantress
Para o gerente de Laboratório e Bem-Estar Animal da Cobb-Vantress na América do Sul, Márcio Gereti, a tecnologia desenvolvida para o bem-estar das aves ajuda em controles mais específicos e precisos. Como exemplo, ele destacou que se pode ter controle de temperatura e qualidade do ar, entre outros, que podem ser feitos de maneira automática, facilitando e desafogando o contingente humano para outras tarefas. “Até mesmo o uso de câmeras de vídeo para visualizar o comportamento das aves e qualquer anomalia que possa estar acontecendo”, destacou.
Segundo ele, o uso de tecnologia tem ajudado, também, nos incubatórios, em temas que antes eram tidos como polêmicos ou tabus, como é o tratamento de bico, que, atualmente, pode ser feito com feixes de infravermelho, diminuindo a possibilidade de lesões, que podem acontecer com os cortes mecânicos. “Há muita tecnologia sendo desenvolvida visando ao bem-estar animal e, ainda que não seja a realidade de toda a indústria, será mais acessível em futuro próximo”, acredita Márcio Gereti.
São muitos os investimentos para que as aves se mantenham confortáveis e bem alojadas. Mas ainda faltam alguns pontos, que precisam ser explorados. Para o gerente da Cobb-Vantress, o que precisa são empresas que, antes de começarem suas atividades, tenham bom plano e políticas e regras bem estabelecidas sobre esse tema. “Bem-estar animal não é algo necessariamente tecnológico ou caro de se implementar, mas requer tempo, empenho e dedicação de todos na empresa. Tudo começa com algo bem descrito e aprovado pela alta diretoria para, então, começar a fazer parte da cultura da empresa. Esta seria a empresa do futuro: aquela que se preocupa com o bem-estar das aves e demonstra isso com programa bem desenhado”, disse ele.
Márcio Gereti completou: “O mais importante a se dizer é que bem-estar animal deve fazer parte da cultura da empresa, isto é, ser feito desde o mais alto diretor até o cargo mais básico, todos devem ter esse tema como algo do cotidiano e base da empresa. Só assim o bem-estar será melhor difundido, seguido e mantido de maneira que seja realidade da empresa”.
Leia a Portaria 395 na íntegra:
Fonte: Revista Avimig. Ed. 164 - Setembro/Outubro 2021
Foto: Arquivo Avimig/Sérgio Amzalak
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